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Primavera dos Museus: encontros entre Ciência e Cultura

Com apoio do CBioClima, a celebrada estação das flores foi o tema do evento do Instituto de Biociências de Botucatu (IBB/UNESP), que valorizou a importância dos herbários e da divulgação científica em sintonia com uma programação cultural.

Por Michelle Braz

 

Desde as funções ecológicas, ao paisagismo e passando pela nossa nutrição diária, as plantas são uma parte fundamental da vida. Para ressaltar a importância da flora em nosso cotidiano, o Herbário BOTU e o Laboratório de Citogenômica e Evolução de Plantas realizaram o evento Primavera dos Museus - Herbários: Para muito além de plantas em 5 de outubro. “Queríamos trazer pessoas com alto nível de conhecimento para falar sobre a importância das coleções científicas”, destaca a Profa. Dra. Ana Paula Moraes, idealizadora e coordenadora do evento.     

A programação contou desde palestras sobre a contribuição dos herbários para a produção de conhecimento, a conservação da biodiversidade e o fornecimento de dados vitais à realização de projeções relacionadas às mudanças ambientais. “Como fontes de dados, os herbários oferecem retratos instantâneos da biodiversidade e amostras de diferentes épocas e lugares que são cruciais para os estudos”, comentou a palestrante Profa. Dra. Priscila de Jesus (Universidade Federal do ABC). 

Logo em sua abertura, o evento contou com a palestra da pesquisadora Dra. Ana Odete Santos Vieira (Universidade Estadual de Londrina). Em sua aula magna, Dra. Odete apresentou um panorama detalhado sobre a experiência dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia na criação e manutenção do Herbário Virtual. “O INCT conta na sua rede, atualmente, com 157 herbários no Brasil e mais de 20 no exterior”, salientou a pesquisadora.

 “Um biólogo não precisa ir para Galápagos para fazer biologia. Nós temos que aprender a fazer com as nossas amostras, com as nossas espécies. Nossa flora é muito rica e dá para fazer muita coisa”, enfatizou Dra. Odete, em sua fala de encerramento, para as próximas gerações de biólogos do evento.

Através de um dia repleto de informações, sobre a importância dos nossos herbários, o evento Primavera dos Museus - Herbários: Para muito além de plantas proporcionou atividades educativas e uma experiência imersiva na botânica brasileira. Além de palestras, o evento contou com atividades culturais com feirinha e jogos lúdicos, além de muita música com a Banda Marcial da Afrape.



Das madeiras a redescoberta de plantas


Além da palestra magistral da pesquisadora Ana Odete, o evento também contou com a mesa-redonda Aplicações e produtos dos Herbários mediada pela docente e organizadora do evento, Profa. Dra. Ana Paula Moraes.

Entre os convidados, o pesquisador Dr. André Lima, doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, apresentou a palestra “O que as madeiras contam”. Após apresentar um breve histórico dos estudos da madeira e das xilotecas (coleções de amostras de madeira), Lima destacou a relação existente entre o clima e o crescimento das árvores, ao problematizar relevantes reflexões acerca do campo da anatomia da madeira. “Diferentes questões continuam em aberto. Como podemos identificar corretamente a enorme variedade de espécies?  Como a madeira dos diferentes grupos de plantas evoluiu? Como as diferentes espécies irão responder às mudanças climáticas? Muitas pesquisas ainda merecem atenção”, encerrou o pesquisador.

Outro convidado foi o pesquisador Dr. Elton John de Lírio, doutor pela Escola Nacional de Botânica Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com a palestra “O renascimento de plantas perdidas: como herbários podem auxiliar na redescoberta de espécies?” O pesquisador ressaltou que 75% das espécies de plantas que ainda não foram catalogadas correm o risco de serem extintas por causa da ação humana. Mas a boa notícia é que das 571 espécies de plantas que eram tidas como extintas, 430 espécies foram redescobertas, porém 90% delas ainda estão em risco de extinção. “Desmatamento, queimadas, coleta ilegal, expansão urbana e agropecuária são algumas das ameaças”, alertou o pesquisador.



Representatividade na Ciência


O grupo de biólogas liderado pela pesquisadora Profa. Dra. Priscila de Jesus descobriu três novos tipos de algas vermelhas. O resultado deste trabalho em associação com sua própria trajetória científica foi articulado na palestra “Dando nome aos bois, ops... às algas: Nomenclatura botânica, divulgação científica e tributo a mulheres negras!”, sendo uma das participações na mesa-redonda. As três algas descritas no trabalho apresentado foram nomeadas em tributo a importantes mulheres negras. “Escolhemos homenagear a escritora e educadora Dra. Maria da Conceição Evaristo Brito, a filósofa e ativista Angela Davis e a filósofa brasileira Djamila Taís Ribeiro dos Santos”, relatou a pesquisadora. Em sua exposição, a pesquisadora também enfatizou a urgência da diversidade em espaços acadêmicos e nas comissões de pesquisas. “Quando temos pessoas diversas na Ciência – mulheres, pessoas negras, PCDs, pessoas neurodivergentes dentro deste contexto –, aí nós conseguimos avaliar melhor e promover esta representatividade (...) Não é fácil, mas precisamos lutar”, concluiu.

Para encerrar a mesa-redonda foi apresentada a palestra “Herbário como centro de pesquisas científicas”, da pesquisadora Profa. Dra. Ana Paula Fortuna Perez, que é livre-docente da UNESP de Botucatu e curadora do Herbário BOTU. Em sua fala, a cientista destacou que proteger as coleções dos herbários é uma das formas de se proteger a biodiversidade. “Um herbário é um patrimônio científico e cultural do país, um verdadeiro laboratório, valioso no ensino da Botânica, um precioso legado para as futuras gerações”, assegurou Dra. Perez. Porém, a professora advertiu que se uma coleção de um herbário estiver com informações desatualizadas ou incorretas, todos os trabalhos que venham a ser gerados a partir deste banco de dados estarão comprometidos.


Tarde com atrações culturais


Se, por um lado, o público acadêmico e as pessoas interessadas em aprofundar ainda mais os seus conhecimentos científicos puderam participar das palestras de importantes pesquisadores nacionais, por outro, os moradores de Botucatu ganharam um importante dia de lazer cultural e educativo. Com este público heterogêneo, o evento Primavera dos Museus - Herbários: Para muito além de plantas contou com atrações para todas as idades e de forma gratuita.  Dentre a programação cultural, o público pode contemplar a apresentação da Banda Marcial de Botucatu/Afrape com a paisagem do Herbário BOTU, além de vários jogos botânicos e até uma feirinha de produtos botânicos.

“Conseguimos atrair tantos os alunos quanto a população, atingindo cerca de 200 pessoas. As pessoas compareceram na Unesp, em pleno sábado, inicialmente para se divertirem, mas saíram daqui um pouco mais próximas da Botânica”, relembra Ana Paula Moraes.






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