A perda de vegetação nativa e o desaparecimento silencioso, e preocupante, do Pampa
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Atualizado: há 11 minutos
Por Gabriela Andrietta/ Edição de vídeo: Eduardo Coladetti
O Pampa, bioma que ocupa apenas 2,3% do território brasileiro, abriga cerca de 9% da biodiversidade do país. Apesar de sua riqueza biológica, vem sofrendo perdas significativas de vegetação nativa, principalmente devido à conversão de áreas naturais em agrícolas e ao avanço da Floresta Atlântica sobre seus campos, segundo revela estudo.
Pesquisadores brasileiros e internacionais estão investigando como as mudanças climáticas e a expansão da Floresta Atlântica podem impactar esse ecossistema que abriga mais de 12 mil espécies de organismos vivos. O estudo, liderado pelo biólogo e professor Jeferson Vizentin-Bugoni, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), é pioneiro ao investigar como os processos de dispersão de sementes podem influenciar a vegetação nativa em outro bioma, sendo o primeiro estudo desse tipo realizado em regiões tropicais.
Com o aumento das temperaturas, muitas espécies tendem a se deslocar em busca de áreas mais frias, seja em altitudes maiores ou em direção ao sul. Nesse contexto, o grupo de pesquisa analisa se animais frugívoros, como as aves que se alimentam de frutos e dispersam sementes, estão transportando espécies típicas da Floresta Atlântica para regiões mais frias, contribuindo involuntariamente para a substituição da vegetação campestre por formações florestais.
“Quando uma planta frutifica na primavera ou no início do verão, aqui no sul da Floresta Atlântica ou no Pampa, há uma tendência de que as aves migratórias que vêm do norte, em direção ao sul, consumam esses frutos e transportem as sementes para regiões mais frias. Essas plantas têm mais chance de lidar com as mudanças climáticas”, explica Vizentin-Bugoni.
Por outro lado, plantas que frutificam no final do verão ou no outono enfrentam um desafio maior. Nesse período, as aves estão migrando na direção oposta, rumo ao norte, o que leva as sementes para regiões mais quentes. “Essas espécies podem precisar de atenção especial, talvez até de migração assistida, para conseguirem lidar com as mudanças do clima”, complementa o pesquisador.
O estudo faz parte de uma rede internacional de cooperação científica que inclui o biólogo Jason Gleditsch, professor do Oberlin College (Estados Unidos). Ele também investiga ecossistemas que foram alterados, como o da Ilha de Oahu, no Havaí.
“O Havaí é um exemplo extremo do que pode acontecer quando há uma alta taxa de extinções e invasões. Hoje, o arquipélago abriga o que chamamos de um novo ecossistema, muito diferente do original. Ao estudá-lo, conseguimos antecipar o que pode ocorrer em outras regiões do mundo, como no Brasil, caso continuemos nessa rota de extinções e espécies invasoras”, afirma Gleditsch.
Os resultados dessa pesquisa ajudam a antecipar cenários futuros e a desenvolver estratégias de conservação tanto para o Pampa quanto para outras regiões que podem passar por transformações semelhantes nas próximas décadas.
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