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Após mais de um século, pesquisadores reencontram begônia rara em ilha brasileira

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    cbioclimamidia
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

Por Carolina Medeiros


Um recente estudo publicado na Oryx – The International Journal of Conservation por um grupo de pesquisadores brasileiros apresenta informações sobre uma importante redescoberta científica. A Begonia larorum foi reencontrada após mais de cem anos na ilha de Alcatrazes, um dos santuários de biodiversidade mais isolados do Brasil, localizada no litoral norte de São Paulo. O estudo foi conduzido pelo professor Fábio Pinheiro, do Instituto de Biologia da Unicamp e pesquisador associado ao CbioClima, e pelo doutorando Gabriel Pavan Sabino.


A Begonia larorum é uma espécie criticamente ameaçada e, de acordo com o Plano de Manejo da Estação Ecológica Tupinambás e Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, fora apontada como possivelmente extinta. A planta é endêmica da ilha e foi redescoberta em 2024, após 14 expedições ao arquipélago entre março de 2022 e setembro de 2024. O achado reacende alertas sobre conservação e mostra a vulnerabilidade de espécies restritas a ambientes insulares.


Essa ausência prolongada é explicada pelo isolamento e pela dificuldade de acesso ao arquipélago, que combina paredões rochosos, profundidade crescente e regras rígidas de proteção ambiental. Ainda assim, o local já sofreu intensas perturbações humanas ao longo do século XX. Já houve cultivos agrícolas, presença de faroleiros e ocupação militar marcada por exercícios de tiro, que provocaram incêndios devastadores.


A investigação: 14 expedições em busca de um fantasma botânico


Movidos pela suspeita de que a espécie poderia ainda sobreviver em algum local isolado, as expedições à Ilha de Alcatrazes incluíam varreduras em matas densas, paredões, encostas expostas e áreas altamente degradadas por incêndios antigos.

A primeira pista surgiu apenas em fevereiro de 2024, quando um único indivíduo estéril foi encontrado no sub-bosque de uma área florestal da ilha. Porém, a dificuldade de estudar uma planta incapaz de florescer e frutificar levou a equipe a uma estratégia alternativa: a propagação ex situ, ou seja, criação de indivíduos ou a conservação de material genético fora de seu habitat, utilizando técnicas de manejo em ambientes artificiais.

Nesse caso, foram usadas estacas mantidas inicialmente em água, formando cinco clones, dos quais dois chegaram à fase reprodutiva em viveiro. A confirmação definitiva da espécie veio meses depois.


Já em setembro de 2024, uma pequena população composta por 19 indivíduos, dos quais 17 reprodutivos, foi localizada em uma área de vegetação aberta. As plantas foram fotografadas, georreferenciadas e coletadas para compor os primeiros registros científicos modernos.


O artigo reúne ainda informações sobre o cenário encontrado pelos pesquisadores, que serviu também para um alerta crítico: a ilha possui áreas com gramíneas e samambaias invasoras, como Melinis minutiflora e Pteridium esculentum, que dominam espaços degradados e aumentam o combustível acumulado no solo.


Essa biomassa seca funciona como gatilho para incêndios. Eventos como esse marcaram a história recente de Alcatrazes, especialmente durante o período militar. Em 2004, um único foco causado por treinamento destruiu cerca de 20 hectares da ilha.


Segundos os pesquisadores, para uma planta com poucos indivíduos conhecidos e distribuição restrita, qualquer perturbação pode significar a extinção da espécie.


Estratégias de conservação: entre o isolamento e a necessidade de ação


Os pesquisadores da Unicamp defendem a adoção de medidas urgentes para impedir que a Begonia larorum desapareça novamente, desta vez, para sempre.

As recomendações incluem:

  • Manutenção da proteção integral já existente no arquipélago, com controle rigoroso de acesso;

  • Controle ativo de espécies invasoras, reduzindo a competição e o risco de incêndios;

  • Programas de conservação ex situ, garantindo a reprodução e preservação genética em jardins botânicos e coleções científicas;

  • Estudos adicionais sobre genética, reprodução e ecologia da espécie, fundamentais para planejar ações futuras.


O artigo também destaca a necessidade de submeter oficialmente a planta à Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), fortalecendo sua visibilidade em políticas internacionais de conservação.


O estudo não significa apenas a redescoberta de uma espécie considerada extinta, revela também uma realidade mais ampla: espécies insulares brasileiras estão entre as mais vulneráveis a distúrbios ambientais, mudanças climáticas e invasões biológicas. Sem políticas robustas de manejo e conservação, redescobertas como essa podem ser exceções em meio a um cenário de perda contínua de biodiversidade.


Para os cientistas envolvidos no estudo, a mensagem é clara: há muito mais a ser descoberto nas ilhas brasileiras, e ainda mais a ser protegido.


Você pode ler o artigo científico na íntegra por meio do DOI: https://doi.org/10.1017/S0030605325000419


Imagens: Gabriel Pavan Sabino
Imagens: Gabriel Pavan Sabino

 
 
 

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