Fragmentação do habitat ameaça anta-brasileira na Mata Atlântica, aponta estudo
- cbioclimamidia

- há 5 dias
- 2 min de leitura
Por: Gabriela Andrietta
O artigo “Habitat fragmentation explains the occupancy probability of the largest herbivore in the Neotropical forests”, publicado na revista Biological Conservation e liderado por pesquisadores da Unesp, com a participação do Prof. Dr. Mauro Galetti, do Dr. André Luis Regolin e de colaboradores de diversas instituições brasileiras e internacionais, revela que a fragmentação florestal é um dos principais fatores que reduzem a probabilidade de ocorrência da anta-brasileira (Tapirus terrestris) na Mata Atlântica.
Entre 2014 e 2019, os pesquisadores monitoraram 42 paisagens no estado de São Paulo, utilizando armadilhas fotográficas. Eles também analisaram mapas de uso e cobertura do solo e imagens de satélite para examinar a estrutura da paisagem, incluindo cobertura florestal e o tamanho dos fragmentos.
Os resultados mostraram que não é apenas a quantidade de floresta que determina a ocorrência da anta. A configuração da paisagem, como o número de fragmentos e a densidade de bordas, foi determinante, pois quanto mais fragmentada e isolada a floresta, menor a probabilidade de presença da espécie.
As antas são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas tropicais. Conhecidas como as jardineiras das florestas, esses animais atuam como dispersoras de grandes sementes, contribuindo para a regeneração da vegetação e para a manutenção do estoque de carbono nas florestas. No entanto, a destruição da Mata Atlântica tem limitado a presença da espécie.
Segundo André Regolin, “essa espécie está distribuída em vários biomas do Brasil, ocorrendo na Caatinga, Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado. Mas o estudo foca nas áreas de interior na mata atlântica, onde a vegetação é mais seca. Essas regiões foram desmatadas desde o período colonial, então hoje restam poucos fragmentos. O que mostramos neste estudo é que importa muito o arranjo desses fragmentos. Se os fragmentos estão próximos entre si ou se há um tamanho mínimo adequado, as chances de encontrar a espécie aumentam. À medida que a paisagem se fragmenta, a espécie some.”
Outro ponto importante é que a fragmentação provoca outros efeitos. “O aumento de rodovias cortando áreas naturais eleva o número de atropelamentos. A caça também representa uma ameaça significativa. Quanto mais fragmentada a paisagem, mais fácil é o acesso às áreas e, consequentemente, aumenta a caça. Mesmo quando não há uma divisão completa da floresta, áreas com formatos muito irregulares, cheias de bordas, tornam o interior da mata mais vulnerável”, explica André. É fundamental restaurar e reconectar os fragmentos florestais.
Uma estratégia de conservação seria aproximar os fragmentos e restaurar as áreas degradadas entre eles. As conexões entre fragmentos são essenciais por possibilitarem o chamado efeito de resgate, que ocorre quando uma população saudável, com crescimento positivo, pode sustentar outra em declínio. Trabalhos como este são fundamentais para identificar onde é necessário proteger, destacar a importância de conectar as áreas e estimar o risco de extinção das espécies, pois é possível compreender a distribuição das populações, estimar seu tamanho e, a partir dessas informações, analisar o risco de extinção em diferentes regiões.





Comentários