O que uma rã escondida no topo da montanha revela sobre a Mata Atlântica?
- cbioclimamidia

- 24 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de ago.

Por: Gabriela Andrietta
Uma nova espécie de rã foi descrita por pesquisadores a partir de estudos realizados no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo, no Espírito Santo. A descoberta de Crossodactylodes alairi foi publicada na revista científica Zoologica Scripta e reforça a importância das florestas de altitude como refúgios de biodiversidade e áreas prioritárias para a conservação.
De pequeno porte, a rãzinha vive em bromélias e depende completamente delas para se abrigar, se alimentar e se reproduzir. Assim como outras espécies do mesmo gênero (Crossodactylodes), ela apresenta uma distribuição extremamente restrita: ocorre em áreas de floresta de altitude que provavelmente atuaram como refúgios, oferecendo condições estáveis para a sobrevivência das espécies.
Segundo um dos autores do estudo, o Dr. Marcus Thadeu T. Santos, vinculado ao laboratório do Prof. Dr. Célio Haddad, também autor do estudo, a descoberta foi o resultado de mais de uma década de trabalho. “Realizei as primeiras expedições há mais de 10 anos. O exemplar que despertou minha atenção foi coletado em 1973 e estava depositado no Museu de Biologia Mello Leitão. Decidi organizar uma expedição ao Forno Grande para tentar encontrar esses animais no campo. Ao longo dos anos, ampliamos a amostragem e utilizamos análises morfológicas e genéticas detalhadas”, conta o pesquisador.
Ao todo, foram analisados 10 fragmentos genéticos e diversas características morfológicas. O estudo também utilizou modelos computacionais para testar hipóteses sobre os processos de diversificação do grupo. Os resultados apontam que a origem da nova espécie está ligada à fragmentação do habitat provocada por mudanças climáticas durante o Plio-Pleistoceno (entre 5 milhões e 12 mil anos atrás), período caracterizado por alterações climáticas significativas.
O Parque Estadual do Forno Grande tem altitudes variadas (da base ao topo das montanhas), o que cria diferentes tipos de vegetação e climas ao longo do parque . Isso forma muitos microambientes — pequenos espaços com características próprias — como áreas úmidas, frias, sombreadas, com solo rochoso, entre outros. Essa diversidade ambiental permite que muitas espécies diferentes consigam viver ali. Segundo Santos, “Isso favorece a presença de uma grande diversidade de plantas e animais. Como restam poucos fragmentos bem preservados da Mata Atlântica, muitas espécies dependem de áreas como o Forno Grande para sobreviver.” Apesar da Mata Atlântica ter sido muito desmatada nas últimas décadas, os trechos montanhosos bem conservados, como o Forno Grande, se tornam refúgios fundamentais para espécies ameaçadas. Sem esses ambientes, muitas delas poderiam desaparecer.
O nome alairi presta homenagem a Alair Tedesco, morador local que atuou por 27 anos como guarda-parque no Parque Estadual do Forno Grande e, mesmo aposentado, continua colaborando com pesquisadores e visitantes, sempre compartilhando seu profundo conhecimento sobre a região. “A ideia de homenagear o Alair surgiu para reforçar esse vínculo entre a comunidade local e a fauna da região”, afirma o pesquisador. “Espero que a rãzinha, que só é conhecida do Parque, possa se tornar um símbolo de orgulho e conservação para os moradores.”
Com altitudes que variam de cerca de 1.000 a mais de 2.000 metros, o Parque Estadual do Forno Grande abriga uma grande variedade de microambientes e formações vegetais, o que favorece a ocorrência de espécies raras e endêmicas. “A presença dessas espécies garante um ecossistema mais saudável, o que tem relação direta com o nosso bem-estar. Acho fundamental que a população local sinta orgulho de viver perto de um ambiente tão especial”, completa Santos.
O artigo completo pode ser acessado no link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/zsc.70001




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